Recentemente tive a oportunidade de conhecer um dos mais belos projetos que é desenvolvido em nossa cidade: “Virando o Jogo Sampa”. ( Dante de Rose Junior)
É um programa de esporte, lazer e recreação, desenvolvido pela Secretaria de Esportes, Lazer e Recreação da Cidade de São Paulo. Tem o apoio da Secretaria de Segurança Urbana/ Guarda Civil Metropolitana – GCM e parceria da Suprefeitura local, responsável pela zeladoria e manutenção dos espaços físicos. É destinado a crianças e adolescentes de 3 a 17 anos de idade, que utiliza o Basquetebol, Hip-Hop, Skate, Patins, Arte e oficina de motricidade (desenvolvimento das habilidades básicas e coordenativas), como instrumentos de inclusão e transformação social, buscando desenvolvimento integral do indivíduo e sua formação educacional.
Atualmente o projeto é desenvolvido em dois polos: Águas Espraiadas (Av. Roberto Marinho) e Luz (na praça em frente ao Colégio Sagrado Coração de Jesus) e futuramente será expandido para outros pontos da cidade.
A Coordenadora do projeto é a profa. Kátia de Araújo que é treinadora de basquetebol e trabalha com a formação de atletas, principalmente no feminino. Por suas mãos passaram atletas que hoje integram as seleções brasileiras como Tássia, Tatiane e Patrícia. Kátia foi eleita por três anos consecutivos como a melhor técnica pela Federação Paulista de Basketball (2003/ 2004/2005). Em 2007 foi nomeada para o cargo efetivo/concursado da Secretaria Municipal de Esportes de São Paulo, o que a fez deixar o basquetebol de Americana. Em 2011, depois de estabilizada e com vários projetos sociais com impacto na sociedade, montou a equipe mini feminino no C.A Juventus e se dedica de corpo e alma ao referido projeto.
Como surgiu a ideia do projeto?
Como eu tinha como meta desde 2007, de um dia implantar atividades de esporte e lazer no Centro Comunitário Águas Espraiadas, que fica próximo da minha casa e que se encontrava ocioso e com o entorno cheio de crianças e adolescentes nas ruas e faróis e em situação de vulnerabilidade e risco social, apresentei o projeto na SEME. Além de aprovarem o projeto, fui solicitada a detectar outros locais com o mesmo perfil para que ele pudesse ser ampliado.
Fui atrás de um nome próprio para implantação e ampliação na cidade de São Paulo, que resumisse o nosso principal objetivo que era a transformação social, por isso o nome Virando o Jogo Sampa.
O Virando O Jogo Sampa é uma reformulação de um projeto desenvolvido por voluntários da Vila Guarani, com atividades de cultura de rua (Basquetebol, Skate, Patins, Arte, Oficina de Motricidade), o que nos aproximava do público alvo. A ideia era implantá-lo em espaços públicos ociosos, com grande índice de vulnerabilidade e risco social e destinado ao atendimento de um público que não tem acesso ao esporte e lazer próximo de sua moradia.
“Virando o Jogo Sampa” tem como objetivos: garantir o acesso ao esporte e lazer como um poderoso instrumento de inclusão e transformação social; proporcionar o desenvolvimento integral do indivíduo e sua formação educacional, favorecer a inserção na sociedade e a ampliar as possibilidades futuras.
Qual o perfil das crianças que participam do projeto?
São crianças e adolescentes, de ambos os sexos, de 03 a 17 anos, que residam ou circulam pelos espaços públicos, em situação de vulnerabilidade e risco social e moradores de entorno.
Que dificuldades vocês encontram para trazer e manter essas crianças no projeto?
São muitas as dificuldades. Inicialmente, é fazer com que as comunidades se apropriem das atividades e dos espaços, e entendam que o espaço público não pertence a nenhuma comunidade específica. Outro problema é a rotatividade do público, pois muitos não possuem moradia fixa.
Os pais incentivam muito pouco e não participam das atividades e muitas crianças têm as mesmas responsabilidades de um adulto, pois muitas têm que cuidar dos irmãos mais novos e até contribuir para a renda familiar, pedindo esmolas em semáforos.
Quais os próximos passos?
Já implantamos o Virando O Jogo Sampa em dois locais: Centro Comunitário Águas Espraiadas e Largo Coração de Jesus – Luz e até Junho de 2012, implantaremos em mais cinco locais. No próximo dia 03 de Março iremos implantar na Praça Mendes de Sá – Glicério.
O que se espera dos professores que ministram as atividades no projeto?
As modalidades implantadas servem de instrumentos para que façamos a nossa parte para aquela comunidade. Além de ensinar os aspectos técnicos das modalidades, os profissionais passam a ser a referência e exemplo para os participantes do programa. Numa relação de confiança adquirida no dia a dia, eles têm o poder de transformá-los, de torná-los cada dia melhores, de reforçar e desenvolver valores morais e éticos.
Isto acontece sem imposições, pela própria dinâmica das aulas e atividades. Assim contribuem para o exercício de cidadania e para um mundo melhor, além de revelar talentos para a modalidade e encaminhá-los para clubes que ofereçam um mínimo de estrutura para mantê-lo e continuidade de um trabalho efetivo.
Fale um pouco do acompanhamento escolar, o papel da conselheira tutelar e o que é oferecido às crianças.
Depois da apropriação do espaço e das atividades pelos participantes, detectamos aqueles que não estão freqüentando o ensino formal, porque passam o dia inteiro no Virando O Jogo, aqueles que não possuem documentos, que sofrem maus tratos, violência, abandono, abusos. Então entramos em contato com o conselho tutelar para zelar pelo cumprimento dos direitos da criança e adolescente previstas no Estatuto da Criança e do Adolescente.
O projeto prevê materiais para cada modalidade, equipamento de proteção para os esportes radicais (patins e skate) e Kit lanche para final de período, primordial, já que muitos dos participantes vão para as atividades sem se alimentar.
Algo que você queira ressaltar e que ache importante
As atividades do Virando O Jogo Sampa acontecem de segunda a segunda feira das 9h às 16h. As crianças recebem um lanche em cada período.
Para finalizar deixo uma frase do grande professor e pedagogo do esporte, Jorge Olímpio Bento (Universidade do Porto): ”Dentro de cada criança há um esboço e projeto de vida e de homem a espera de serem revelados e realizados. Nem todos podem ser campeões, mas todos podem dar o melhor de si mesmo para cumprir o sonho e a história de felicidade que intimamente os habitam. Todos podem alargar e trocar os limites e constrangimentos interiores pela visão e grandeza dos horizontes exteriores“ .
Professor da USP desde 1977, técnico de basquetebol e atual membro da Comissão Científica da Escola Nacional de Treinadores de Basquetebol.